Construir um café moderninho, minimalista e cheio de charme no coração do bairro paulistano de Vila Buarque pode ser uma missão difícil para arquitetos que se abalam facilmente com críticas. Acontece que logo na rua General Jardim, uma das travessas da Cesário Mota Jr, onde fica localizado o café Beluga, existe um verdadeiro epicentro de profissionais do ramo. "Quando as portas foram abertas, o espaço estava inacabado, sem fachada. Como durante a semana 70% dos frequentadores são arquitetos, todo mundo dava um palpite. A gente brincava que esse ia ser o café mais julgado do Brasil", conta Juliana Braga à Casa Vogue, responsável pela obra ao lado de Ciro Miguel e Bruna Canepa.
Críticas – e elogios – à parte, era exatamente um desenvolvimento legítimo o que os donos do local desejavam. Flávio Seixlack e Rodolfo Herrera, vindos do jornalismo e da publicidade, respectivamente, queriam que o Beluga começasse do zero, como uma tela em branco, assim como o reposicionamento de carreira que fizeram. "O nosso estabelecimento tinha que ser simples e sem frescura, imagem que combina muito com a proposta que achamos que o café tem que ter. A gente não queria que ele inaugurasse com cara de já estar aqui há 20 anos.", conta Herrera. "Assim como nós estamos aprendendo na prática, o espaço também irá ganhando personalidade gradativamente. Nós não temos história, estamos iniciando uma. Mas provavelmente ele continuará com essa estética mais clean. Ou não. Só o tempo irá dizer."
Para dar tal alma ao espaço, os detalhes foram minuciosamente pensados e a organização espacial privilegiou a funcionalidade. O primeiro passo foi o balcão. Baixo, deixa claro todo o processo de produção dos 10 cafés do menu enxuto – entre clássicos italianos e gelados –, todos preparados na hora pela dupla. "Não temos funcionários, pois queremos nos envolver com todos os detalhes, manter o controle e a qualidade", revela Seixlack. "E além disso, mais que vender bebidas prontas, queremos levar para os clientes um pouco da cultura do café, uma bebida que pode, e deve, fugir do básico expresso. Abordamos diversos modos de preparo e queremos mostrar as possibilidades que ela pode oferecer."
Graças ao pé direito alto, a loja ganhou um projeto luminotécnico escultural."Como todos os elementos ficaram reunidos embaixo, criamos uma luminária para ocupar o espaço aéreo", explica Juliana. "Depois de muitos estudos chegamos a um desenho muito gráfico, com a cara dos meninos, feito somente de peças fácies de encontrar no mercado. Nada foi feito sobre medida."
Todos os produtos vendidos ali foram escolhidos para serem especiais. A torragem dos grãos foi desenvolvida pelos sócios junto aos produtores. Os objetos para o preparo – que também estão à venda no local – foram importados para permitir que o resultado traga os melhores sabores artesanais. E a comida foi eleita de forma intuitiva: de acordo com o gosto pessoal de Seixlack e Herrera. "O cardápio e o serviço são simples, mas com muito cuidado aos detalhes", completa Herrera. "Tentamos manter uma relação próxima com os fornecedores e damos preferência para quem está começando como a gente. Tem funcionado."
Depois de descobrir que cada pormenor dessa verdadeira ode ao minimalismo é cheio de história e significado, só resta saber quais segredos guarda o nome escolhido para batizar o local. A resposta vem sem firulas em meio a risadas: "A gente simplesmente gostou da sonoridade e da figura amigável da baleia beluga. Era um nome provisório que foi ficando, ficando, e ficou."